Mãe…
Mãe…
Rascunhei umas coisas.
Queria te dizer.
Vou falando assim, como quem não quer nada, só para a gente papear, tá?
Esquece o dia. Eu não ligo para estes dias que o comércio inventa.
Acho tudo uma bobagem. Eu sei que você também não liga.
Mas sei que você também se aproveita para cobrar minha presença. Eu te entendo. Mas eu vim aqui porque
me deu saudade.
Tô com uma saudade miocárdica sua.
Um aperto no coração... sabe aquelas cenas que estouram as bússolas nos filmes de pirata... aí fica tudo
desorientado... fiquei assim hoje... estourou minha bússola.
Mas aí, quando eu pensei que ia falar com você, me reencontrei.
Meu ponto cardeal. Você.
Outro dia o cheiro de chuva tava tão forte, que eu senti você me dando a mão.
Foi lindo. A chuva parou no ar e ficou admirando a gente. Mas tinha sol. Você ama chuva com sol, né?
Mãe, várias coisas que você disse que iam acontecer, acabaram acontecendo.
Mas tá tudo certo, o sol continua quentinho. Abraçando a gente.
Sim, o papai tá bem. Tem aquelas coisas dele, mas tá bem.
Olha, tem umas coisas bem difíceis rolando aqui, mas eu conto outro dia, quero saber de você. Você tá tranquila?
Que bom!
Outra coisa, eu sei que você também não precisa de presente.
Mas ai de mim se eu não me dedicar...
Eu vim aqui te ver.
Vou te dar o presente.
Não, mãe, não é de comer.
Nem vestir. Não, não se dá pijama de presente, mãe...
É uma notícia. Uma decisão.
Eu decidi que eu vou deixar um mundo melhor.
Eu vou. Já estou deixando.
Que bom que gostou. Porque eu vou deixá-lo melhor para você, mesmo você estando aí.
Eu vou deixar um mundo melhor, igual a você.
Igualzinho como você o deixou para mim.
Eu vou deixá-lo melhor por mim, por você, por tudo no mundo.
Sabia que você ia gostar.
Eu disse que ia me dedicar...
Poesia interpretada por Bel Kutner:
Poesia interpretada por Zé Carlos Machado: